15 de jan. de 2012

Não saberia dizer o que lhe aconteceu naquelas férias. Desde o primeiro dia de descanso desapareceu também a escrita mental incessante. Reclamava tanto dos diálogos murmurantes, tão parecidos com as vozes que seus pacientes relatavam, que não poderia imaginar a falta que fariam. Não havia com quem brigar. Foi simplesmente assim, um vazio, uma secura, uma saudade de casa. Comprou cadernos novos, assistiu a peças e películas. E nada. Talvez tenha sido bom demais, sem melodrama para elaborar. E curiosamente, não queria inventar mais-uma-briga-para-ficar-feliz-com-as-pazes-e-escrever-um-conto-depois. Tanto tempo de análise finalmente estava surtindo efeito? Comemorou, contou para os amigos das vantagens da psicanálise. E secretamente fantasiou entrar e quebrar todos os souvenires do consultório (vingancinha neurótica). Atuou e faltou na próxima sessão. Ficou em casa, preparou um café, acendeu um cigarro só para fazer cena e escreveu. Escreveu algo bem vermelho e dolorido. Enfim, era ela de novo.