31 de out. de 2011

Papéis

ordenados obssessivamente
nas gavetas da escrivaninha
TOC, TOC, TOC
infindáveis escritos
rabiscados nos guardanapos
que limpavam ritmados
os vestígios do querer.
Continuavam lá
catalogados para serem perdidos.
Um método minucioso
para evitar gravidez:
doze dias após sangrar
tratava de trancar
as gavetas antes de dormir.
Mas os sonhos férteis
subrepticiamente
escorregavam pela cama e
encontravam o móvel
(herança da mãe).
As gavetas gotejavam
o açúcar azulado
e ela nunca soube explicar
as manhãs vertiginosas
de céu azul-bebê
que contemplava
leve e desordenada
"ai, que enjôo me dá o açúcar do desejo"

13 de out. de 2011


Na escuridão dessa noite dura e fria sou acordada de meus sonhos de menina. Devo crescer tão rápido quanto Alice. Mas não há poção alguma. E não estou no país da maravilhas. Sou apenas alguém aqui, na realidade implacável. Porque a vida é tão terrivelmente democrática? No final ninguém é escolhido e não há concessões. E é preciso desesperadamente confiar. Confiar na lógica absurda da vida. E é preciso entregar-se a ela como quem pula do penhasco num sonho. E acreditar que mesmo nas noites mais escuras ainda existem os vagalumes.