31 de out. de 2011

Papéis

ordenados obssessivamente
nas gavetas da escrivaninha
TOC, TOC, TOC
infindáveis escritos
rabiscados nos guardanapos
que limpavam ritmados
os vestígios do querer.
Continuavam lá
catalogados para serem perdidos.
Um método minucioso
para evitar gravidez:
doze dias após sangrar
tratava de trancar
as gavetas antes de dormir.
Mas os sonhos férteis
subrepticiamente
escorregavam pela cama e
encontravam o móvel
(herança da mãe).
As gavetas gotejavam
o açúcar azulado
e ela nunca soube explicar
as manhãs vertiginosas
de céu azul-bebê
que contemplava
leve e desordenada
"ai, que enjôo me dá o açúcar do desejo"

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