23 de jul. de 2011

Amy Winehouse - Bye bye little girl black



Hoje é um dia muito triste. Meu coração soprano, hoje é barítono e chora grave e rouco. Minha little girl black se foi. Mamãe me deu a notícia por telefone enquanto eu estava fazendo feira. Chorei com as sacolas na mão como se chorasse por uma amiga querida. Amy era como uma amiga. Não sou muito tiete, mas meus poucos ídolos são como amigos, que me acompanham de longe habitando minhas histórias imaginárias, meus dramas subjetivos, assoprando minhas feridas, fazendo companhia nos momentos de incompreensão total. Muitos artistas que admiro e gosto são apenas músicas, se tornam som sem dono, voz sem rosto. Mas Amy foi como a Janis em minha adolescência: quando a escuto é como se ela cantasse para mim. Sua música é viva, tem sua presença. Minhas vivências sempre têm cheiros e trilha sonora. Amy embalou alguns dos momentos mais importantes em minha vida. Quando me separei e fiz uma “rehab” sentimental na casa dos meus pais, “Back to black” e “Love is a losing game” foram a perfeita tradução de minha dor e eu não me sentia tão sozinha. Ela me entendia. Não me esqueço de uma noite, a mais dolorida de todas, em que o mundo dormia e eu só sentia. “Love is losing” ressoava incessantemente em minha cabeça, como a legenda de algo que ainda não tinha significante possível. E quando meu coração começou a pulsar novamente, “Tears dry on their on” me dava aquela esperança de continuar, porque afinal, eu já sou crescidinha “and in my way, in this blue shade, my tears dry on their own”. Ela também é trilha de meu amor! Eu e minha companheira dançamos muito ao som de Amy. E foi a primeira de nossa lista de casamento. Na verdade, uma das poucas orientações ao DJ foi: muuuuita Amy Winehouse. Todo mundo pirou e celebrou o amor ao som de nossa louca amante inveterada. Quando ela veio ao Brasil tive certeza de que essa seria a minha única oportunidade de vê-la. Eu sabia que Amy não suportaria muito tempo. No dia do show me senti novamente adolescente. Olhos pintados de gatinho. Ônibus de excursão. O dia parecia não passar. Não via a hora de finalmente ver minha diva trash. E claro, todos nós dividíamos a apreensão e a incerteza de que entraria para seu último show no Brasil. A cada minuto de atraso meu coração palpitava e eu pedia com muita força que ela só fizesse mais esse, pois eu estava ali, no meio de uma multidão que se espremia, só para vê-la. Quando Amy entrou foi muito emocionante e chocante. Ela era realmente linda em sua singularidade. Sua peruca reinventada, sua perninha palito balançando sem ritmo. Mas também era de uma fragilidade indescritível. Miúda demais para aquele palco de super produções, Amy não conseguia se dirigir ao público. Quando olhava para frente e via aquele mundaréu de gente, abaixava a cabeça e bebia seu copo. Quando saía do palco todos ficávamos tensos, com medo que ela não retornasse. A banda também parecia não relaxar muito, e estar a todo o momento pronta para acudir mais um passo cambaleante. O início, como todos sabem, foi meio confuso. Trocava as letras, atrasava o andamento. Mas só quem estava lá sabe o que é escutá-la quando ela está toda presente, solta, Amy. Era uma potência tão tocante e dolorosa. Realmente emocionante. O show foi curto. Acho até que mais longo do que ela gostaria. Era tudo muito grande para aquela menina frágil e intensa. Seu show deveria ser pequeno e intimista. Minha amiga disse algo que acredito ser o que mais exprime a Amy que vimos: ela parecia uma criança perdida no parque. Dava muita vontade de vê-la cantar, e ao mesmo tempo, se eu pudesse a pegaria pela mão, tiraria de lá, e lhe diria, “tudo bem, tudo bem”. Ela despertava uma vontade de cuidar, sabe? Ao final, fomos embora com um aperto no peito, como uma despedida. Foi tão marcante e fugidio... Como ela, que viveu intensamente e acredito que dolorosamente. E se foi. Hoje estou de luto por minha amiga. Bye Amy! Espero que alguém lhe pegue pela mão e cuide de você.

"Back to black, back to nothing. No more wine in the house" (Claos Mozi)

Um comentário:

  1. Seu texto é sensível e delicado como vc. Sua "amiga" ficaria muito lisonjeada com palavras que embalam e acariciam. Amy, de tão frágil, não suportou viver no caos deste mundo, e se foi, mas deixou sua marca incontestável.

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