21 de jul. de 2011

Das vantagens de ser bobo


Tenho tido uma curiosa mudança de valores. Sempre me interessaram os inteligentes, os estudados, os eruditos. Porém, ultimamente tudo isso anda me cansando bastante. Tenho notado que muitas vezes o saber acaba deixando as pessoas mais vazias. E chatas. Discussões por discussões, daquelas, que uma amiga minha diria: de um quilo não sobrou cem gramas. Porque a conversa vira um infindável rebatimento de argumentos só para provar que um está mais certo que o outro. E o se sobressair como finalidade única, descola o papo da vida vivida, e dali, nada realmente útil se tira. Ainda continuo sendo caxias porque também tenho amor às criações, e não faço apologia à burrice. Mas tenho gostado de me fazer de boba, meio sonsa sabe, para ir vivendo secretamente do meu jeito, com algumas idéias tolas que muitas vezes nem ouso falar em voz alta. Tenho me dedicado também a encontrar beleza e esperteza nos seres cotidianos. Nossa, como são mais interessantes! Não precisam perder tempo em ficar tentando provar. São simplesmente o que sabem. E são muito mais criativos porque não têm que se restringir a nenhuma teoria, que não a deles próprios. Acolhem sem preconceito o que lhes vêm à cabeça. E ainda, não ficam angustiados quando não entendem. E esse é o maior ensinamento para mim. Suportar o não entender. Acolhê-lo em meu corpo antes que ele vire mente e fique chato, descoberto, como tudo. Ai, como é vivo o não saber, o não entender. E como é bom para mim, uma escorpiana típica (que tem a terrível tendência paranóica a dissecar minuciosamente tudo o que lhe chega) experimentar a beleza da estranheza. E nesse meu momento de amor à simplicidade e à bobeira acabei encontrando um texto de Clarice (cabeções de plantão: Clarice vale, pois ela a gente entende com o corpo), chamado “Das vantagens de ser bobo”. Tão esperto em sua bobalhice que vale algumas citações:
- a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar e, portanto, estar tranqüilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado.
- ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar por bobos.
-os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham a vida.
-é quase impossível evitar o excesso de amor que um bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.
E pra finalizar, (essa é dedicada aos meus conterrâneos mineiros): há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas!

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