29 de ago. de 2011

"Antropologia da Face Gloriosa"

(Deus é a explosão de todos os pontos de vista)

Amo fotografia. Ultimanente tenho amado ainda mais. Há dois anos planejo comprar uma máquina bacana, mas tive outras prioridades mais urgentes e acabei postergando esse antigo desejo. Daí, enquanto não posso praticar, tenho estudado bastante, pesquisado fotografia, conhecido muita coisa linda. Tenho revisitado um livro, na verdade, uma obra de arte, o "Antropologia da face gloriosa" do Arthur Omar. Ele tem sido o meu "preciosas promessas" - aquela caixinha de salmos, que você abre e tira uma promessa de deus para você. Sei lá se todo mundo conhece, mas sempre tinha uma dessas na casa dos meus pais... coisa de minha avó... Hoje, sabendo que deus eu encontro nos olhos da minha gata ou num sorriso de compreensão, já não faz sentido prendê-lo num cubículo de madeira. Mas o "Antropologia" está me trazendo "gloriosos" instantes de alegria. O livro reúne fotos colhidas entre os carnavais de 73 e 96. Omar tem sua própria filosofia da fotografia, que em si já é fascinante. Para ele, quando fotografamos não paramos o tempo, apenas fotografamos o que está parado, esperando para ser fotografado. A fotografia seviria para abrir um fenda no tempo e capturar nas coisas o que já está lá para ser fotografia. As coisas no mundo teriam uma propriedade estética (momentos de êxito, de sensualidade, de espanto, ou qualquer afeto pulsante) que existiria "naturalmente", e ao mesmo tempo seria produzido pelo olhar do fotógrafo. Daí, o ato fotográfico ser aquele encontro capaz de descobrir a glória que atravessa as coisas mais insignificantes. E não no sentido de uma busca de momentos mágicos que se oferecem diante da câmera. Para Omar, na Antropologia trata-se menos de um olho super treinado a reagir com velocidade, mas de "presença de espírito": "o que importa é a conexão entre dois batimentos, e a capacidade de detectar em si mesmo quando isso ocorre. Só assim poderemos capturar o êxtase do outro". Não se trata de um investimento de visão, "é mais uma questão rítmica vibracional, bater na mesma frequencia. Um coincidir, um incidir no mesmo ponto". Ou seja, o fotógrafo só extrai o fotográfico das coisas através de uma conexão com elas. Especificamente nesse livro, seu "objeto" de exploração é o rosto humano, em busca da face gloriosa que habita cada face anônima. O anonimato descola os rostos das referências ao mundo, que se tornam, eles mesmo, mundos. Uma face que "é um anteparo de todo um mundo. Mundo que se abre por detrás dela", Omar nos diz, e confirmamos no encontro. E não fosse o bastante, os títulos dados a cada foto não são legendas explicativas, mas ao contrário, evocam estados e destróem evidências. São narrativas que confrontam os retratos impessoais do livro. Nossa, acho que me delonguei demais! Já devo até ter tornado chato esse livro tão lindo... mas é uma boa dica para quem curte fotografia e poesia. E para mim, que considero arte tudo aquilo que me suscita novos afetos e vibrações, o Antropologia da Face Gloriosa é pura arte. É meu novo "preciosas promessas". A cada consulta uma preciosidade poética. Mas agora, de um deus que dança.


Um comentário:

  1. Minha amiga querida você é preciosa com as palavras tanto quanto é com o Amor!
    Obrigada por tanta sensibilidade compartilhada.
    Sempre.
    Contamina!!!!!!

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