18 de ago. de 2011

Aquela praça


Estava sentada no banco daquela praça. A mesma onde chorou o amor que se foi. Desta vez, esperança. Aquele coração ainda despedaçado. Mas enorme, enorme no peito. Batia junto com os passos dela. Rápidos, aflitos por buscar aquilo que. As mãos suadas descascavam a tinta verde. Não conseguia parar. Olhava as árvores, as pessoas passando. Naquele dia tudo era tão feio e alheio. Choro ao telefone. Rasgo no peito. Um buraco negro. Infinito. E agora, aqui, o mesmo de sempre, já tão outro. Tão vivo. Essa luz que vaza por entre as folhas. O cachorro cheirando seu sexo, e olhando desolado, arrastado pela coleira (os humanos não suportam que os animais entendam mais do que eles). Deus, o que se faz quando um amor se vai e o espelho se quebra? Como é possível estar ali de novo, com essa ânsia de se doar? Essa vontade de fotografar o cheiro do sexo? Não. Não queria mais perguntas. Não suportava o velho disco arranhado, ecoando infinito em sua cabeça. Então, sentiu-se tão mulher, e ao mesmo tempo tão criança de novo. Porque aquela crença, aquela mania que tinha de acreditar que tudo ia dar certo e que no fundo as pessoas eram boas de coração, lhe assaltava novamente. Como é difícil encontrar alguém que acredite em você. Mas, por mais que quisesse se proteger já não podia mais. Ela acreditava. Ela acreditava de novo. Ela se amava e sabia que era digna de amor. E esse momento foi tão pleno, que ela se amava inteira e não havia dúvidas. Nem palavras. Seu novo amor chegou. E não era preciso nada além da presença. Elas respiraram respirando. Olharam-se apenas olhando. Uma viu a outra. E se entenderam. Assim, no silêncio. Elas tinham a marca indelével da dor. As unhas esverdeadas tocaram os dedos rosados da outra. E simplesmente amaram amando. E nunca mais aquelas árvores seriam as mesmas. Nem elas.

2 comentários:

  1. Mais um belo texto! Lida com a palavra como algo vivo, sinto sempre o cheiro e as vibrações compartilhadas das letras emitidas de seus silêncios, textos.

    ResponderExcluir