4 de ago. de 2011

Todo mundo merece um momento de auto compaixão


Anteontem tive uma crise de choro. Desde quinta passada estou em repouso devido a uma pequena cirurgia no ovário. Apesar de ser magrinha desde pequena, e fingir que comia (tinha que sobrar espaço para outras coisas dentro de mim), sempre fui dura na queda. Não tive nada além daquelas moléstias de criança. Uma amigdalitesinha aqui, outra ali, por falta de dizer certas coisas, mas era só. E não é que há alguns meses atrás sinto umas coisas fora do meu comum e descubro um cisto meio estranhede no ovário? Eu ansiosa, volto do exame com um possível diagnóstico na mão e, claro, vou fuçar no Google o que era o tal do cisto dermóide. Resumindo, é uma espécie de tumor benigno gerado por um óvulo se anima a brincar de isoladinho e nunca mais pára: começa a se dividir sozinho, tentando gerar um organismo sem ser fecundado. O resultado disso é um amontoado desordenado de tecidos, incluindo unhas, dentes, pêlos e ossos. Tipo, um monstrinho. Encontrei algumas fotos num blog chamado “IssoÉBizarro”. Dá para imaginar uma bola de vôlei orgânica e nojenta? Pois é o auge do bizarro que eles colocam lá. Nada comparado ao meu cistinho. Mas primeiro tive um piti plus, claro. Depois fiquei paranóica e sonhei que tinha uma coruja dentro do meu ovário. E só depois (depois mesmo) me acalmei, conversei com a Ká (que sempre me acalma), com minha médica e marcamos a cirurgia (o óvulo não sai da crise e pira em crescer sem um par... tem que tirar). Então, até o dia que antecedeu a cirurgia, deletei o fato. Fiz a linha "Dori desligadinha". Tipo, “ai, comigo? nossa, nem lembrava!”. Mamãe veio para cá, e ela e Ká me acompanharam na madrugada da quinta. E foi tudo muito rápido. Um remédio contra enjôo, uma picadinha de Dormonid, e puff. Em menos de cinco minutos eu apaguei, e nem me lembro como. A volta da anestesia geral é meio “onde estou (...) ãh, que frio, que é esse monte de gente nessa sala? (...)ai meu deus, mexeram no ovário errado”. A incisão foi feita no lado esquerdo, mas o cisto estava no direito. Imaginem como foi para eu entender que eles tinham operado certo... Mas como eu disse, sou fortinha, e logo me tiraram da sala de recuperação. Daí vem a dor. Nossa que dor. Dá para imaginar que alguém fez buracos na sua barriga, inflou tipo um balão e mexeu na suas vísceras? Pois pelo que eu entendi é mais ou menos isso que eles fazem na videolaparoscopia. É um dos procedimentos menos invasivos, e mesmo assim você fica barriguda e pede pelo amor de deus para tirarem as agulhas que esqueceram lá dentro, e colocarem seus órgãos no lugar. Fora a dor da brincadeira, evoluí muito bem, sem nenhuma reação à anestesia geral, e tive alta no mesmo dia. Dei só uma choradinha ao telefone quando a Ká me ligou, mas me recompus e assim fiquei até anteontem. Todos esses dias não reclamei, fui positiva, só me escorriam lágrimas quando tossia. Nossa, como dói ardido tossir! E não é que, cinco dias depois de entrar na faca é que tive uma crise de choro? Na hora que tentamos tirar o micropore e vi os cortinhos, desmoronei. E só não sentei no chão do banheiro e esperneei porque ia doer pra caramba. A Ká ficou perdida, “mas meu deus, deu tudo certo, você está bem, se recuperando, forte”. E eu chorava mais. “Ka você não entende? Agora eu posso chorar! Tive que ser forte, não tive escolha. Tive que confiar que alguém ia abrir minha barriga! Abriram mesmo! Olha só o corte, olha só!”. Chorei, chorei. Aproveitei para chorar por tudo o que tinha segurado e mais uns choros dos últimos meses. Ela sentou no bidê e esperou sobrar só soluço. Me abraçou. “Calma, calma”. Ai que alívio... que alívio se permitir por alguns minutos ter pena de si mesmo. Lembro-me que Kevin Arnold disse algo tipo: “todo mundo merece um momento de auto compaixão”. Ai, ai. Tô com ele. Mereço mesmo. Não dá para ser fortona a todo momento. E para falar verdade, sinto-me muito mais forte agora.

foto: Diane Arbus (sempre quis usar essa foto! ehehehe)

Um comentário:

  1. Você pode ser tocada por inúmeras sensações, chorar em algumas ocasiões, rir da barriga doer, silenciar, entristecer, alegrar, que sempre estarei aqui para viver tudo isso ao seu lado.

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